A prova do Enem foi feita e entregue
pelos candidatos neste final de semana, porém alguns assuntos sobre ela ainda
reverberam na mídia e nas redes sociais. Dentre eles, o que mais chama atenção
é o tema da redação “A persistência da violência contra a mulher na sociedade
brasileira”.
Foi
preciso que milhões de candidatos Brasil afora (8,4 milhões de inscritos),
sentados em suas carteiras, rodeados de outros candidatos, parassem pra
refletir sobre esse tema colocando em palavras no papel seu ponto de vista
sobre o assunto. Mas não para por aí! Além de analisar o tema, os estudantes
precisaram contribuir com uma proposta de intervenção, pensando numa possível
solução.
Um clima de polêmica se
espalhou como rastilho de pólvora nas redes sociais, que ficaram abarrotadas
das hashtags #enemfeminista e
#machistasnãopassarão. Violência contra mulher gerando polêmica em pleno século
XXI? Pois é!
Que violência é essa,
que gera tamanho alvoroço? A violência é um ato que precisa ser posto em
palavras para não ser repetido. A prova do Enem, ao fazer com que milhões de
pessoas pensem e se coloquem sobre este tema, proporciona um dar-se conta
coletivo, implica responsabilização, do ato tira-se o extrato.
Em tempos de liberdade
de expressão mascarando a violação dos direitos humanos, da cultura do estupro,
da sexualização de mulheres como meros objetos de satisfação, da sexualização
de crianças, como o caso da menina de 12 anos participante de um programa de
televisão, da admissão do projeto de lei (PL) 5069/13 pela Comissão de
Constituição e Justiça, que atenta contra a autonomia da mulher quanto ao seu
corpo e suas decisões em caso de estupro, fica claro como ainda não estão
consolidados, no Brasil, os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres.
Podemos ver aqui a violência contra a mulher reverberando? Temo que sim.
Fica claro que é
preciso falar sobre isso. Que essas reverberações entrem em choque com o
diálogo social sobre violência contra a mulher despertado pela redação do Enem,
fazendo circular discursos e ampliar ideias. Que nesse dia das bruxas, 31 de
outubro, uma semana após a prova do Enem ser realizada, não deixemos que mais
mulheres sejam queimadas na fogueira do emudecimento, da opressão e da
violência.
Luciane David –
Psicóloga do CEAPIA