quinta-feira, 29 de outubro de 2015

A redação do Enem e o dia das bruxas

           A prova do Enem foi feita e entregue pelos candidatos neste final de semana, porém alguns assuntos sobre ela ainda reverberam na mídia e nas redes sociais. Dentre eles, o que mais chama atenção é o tema da redação “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”.
            Foi preciso que milhões de candidatos Brasil afora (8,4 milhões de inscritos), sentados em suas carteiras, rodeados de outros candidatos, parassem pra refletir sobre esse tema colocando em palavras no papel seu ponto de vista sobre o assunto. Mas não para por aí! Além de analisar o tema, os estudantes precisaram contribuir com uma proposta de intervenção, pensando numa possível solução.
Um clima de polêmica se espalhou como rastilho de pólvora nas redes sociais, que ficaram abarrotadas das hashtags #enemfeminista e #machistasnãopassarão. Violência contra mulher gerando polêmica em pleno século XXI? Pois é!
Que violência é essa, que gera tamanho alvoroço? A violência é um ato que precisa ser posto em palavras para não ser repetido. A prova do Enem, ao fazer com que milhões de pessoas pensem e se coloquem sobre este tema, proporciona um dar-se conta coletivo, implica responsabilização, do ato tira-se o extrato.
Em tempos de liberdade de expressão mascarando a violação dos direitos humanos, da cultura do estupro, da sexualização de mulheres como meros objetos de satisfação, da sexualização de crianças, como o caso da menina de 12 anos participante de um programa de televisão, da admissão do projeto de lei (PL) 5069/13 pela Comissão de Constituição e Justiça, que atenta contra a autonomia da mulher quanto ao seu corpo e suas decisões em caso de estupro, fica claro como ainda não estão consolidados, no Brasil, os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres. Podemos ver aqui a violência contra a mulher reverberando? Temo que sim.
Fica claro que é preciso falar sobre isso. Que essas reverberações entrem em choque com o diálogo social sobre violência contra a mulher despertado pela redação do Enem, fazendo circular discursos e ampliar ideias. Que nesse dia das bruxas, 31 de outubro, uma semana após a prova do Enem ser realizada, não deixemos que mais mulheres sejam queimadas na fogueira do emudecimento, da opressão e da violência.
Luciane David – Psicóloga do CEAPIA

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

E NEM pensar em desistir!

Nos próximos dias 24 e 25 de outubro serão realizadas as provas do ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio – você ai, é algum dos 7.746.271 inscritos deste ano? Se sim, possivelmente essa semana represente momentos de grande tensão para você! Mas calma, estamos aqui para falar um pouco dessa turbulência de sentimentos pré-prova e buscar equilibrar esse período.
Sabemos que no mundo em que estamos vivendo, cada vez mais competitivo, a etapa de passar no vestibular ganha bastante ênfase e pode gerar cobranças por todos os lados. Porém, nessa reta final para as provas do ENEM, definitivamente a pressão não é bem vinda, venha ela de que lado for.
Muitas dessas cobranças vêm da própria família, as quais devem ser bem observadas pelos pais, pois numa dosagem exagerada não traz nenhum auxílio ao adolescente – não é mesmo? Podendo gerar inclusive um efeito contrário, despertando sentimentos como a insegurança que pode prejudicar o desempenho nas provas. Assim, é necessário um equilíbrio no nível de cobrança, pois a falta de interesse dos pais em relação ao Exame também pode ser prejudicial, já que pode ser absorvida pelo adolescente como um fator desmotivador. E cabe ressaltar que o apoio da família é extremamente importante, tanto para a conquista desse objetivo, quanto para acomodar os sentimentos caso ele não venha.
Por outro lado, ou seguindo essa mesma linha de sentimentos turbulentos gerados antes da prova, surge à cobrança motivada pelo próprio adolescente, seja ela genuína no caso daqueles tomados por um alto grau de auto-exigência, ou oriundas de comparações com irmãos, amigos e conhecidos que já passaram por essa etapa. E nada mais compreensível do que sentir-se com medo, ansioso (a) ou inseguro (a) diante das provas, já que está se tratando de um período de decisão na vida. Decisão essa que vai gerar mudanças, e mudanças por mais que sejam positivas, sempre desacomodam, sempre nos fazem ter que nos readaptarmos. E isso é ótimo, pois é sinal de que estamos crescendo em diversos aspectos!
Nesses últimos dias que antecedem as provas, busque prestar atenção a sua saúde, física e emocional. A conhecida frase “sem exageros” se emprega bem nesse momento! É sabido da grande possibilidade de sentimentos desorganizadores afetarem você nessa reta final, então, é extremamente importante prestar atenção a eles e buscar por situações que lhe deem prazer e tranquilidade. Essa é uma etapa certamente importante e possibilitará grandes conquistas, mas é uma etapa e se ela não vier agora outras possibilidades virão. Acredite no seu potencial e esforço desses últimos tempos de estudo e busque focar no momento presente e não nas demandas que ocorrerão passando ou não no exame. Tudo ao seu tempo! E o momento agora é viver uma etapa, como várias outras que você já passou e como muitas que ainda estão por vir! Boa sorte – na vida!!



Karla Amaral – Psicóloga do CEAPIA

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Por que será que preciso disto?

Queridos leitores, hoje gostaríamos de abordar um tema muito presente em nossa rotina: o consumismo. Esse nosso companheiro diário, já está tão incorporado em nossa cultura que, por vezes, nem mais podemos detectá-lo com tanta facilidade. Fica difícil saber se precisamos efetivamente de algo ou se estamos buscando somente a ideia que aquele produto traz consigo.
Queiramos ou não, estamos imersos numa rede que nos bombardeia a cada momento com diversos estímulos de vendas. Estes produtos ofertados são, normalmente, associados a pessoas que nos remetem a algum tipo de admiração, seja por sua fama, por sua posição social, pelo seu corpo escultural, pelo seu talento, pela sua alegria ou qualquer outro aspecto positivo. A impressão é que seria impossível alguém não ser feliz tendo aquelas características e, naturalmente, consumindo aquele produto. O mercado, de forma hábil, mais que nos vender um celular, um tênis, uma viagem ou qualquer outro produto, quer nos passar a ideia que precisamos daquele item específico para viver bem e incorporar toda a “felicidade” daqueles personagens. Isso, de certa forma, nos incluiria neste seleto grupo de pessoas admiráveis. Pior que estar pagando por uma ilusão, é saber que ela é momentânea e que já na próxima semana o produto da moda não será o mesmo, com o lançamento de um equipamento mais moderno, de uma versão atualizada ou de uma nova marca famosa. O objeto de desejo muda e a “felicidade”, há pouco adquirida, já está obsoleta e não serve mais. Mostra-se, desta forma, o lado mais cruel do consumismo: uma busca interminável por uma satisfação ilusória, de curta duração e que custa muito dinheiro. Frustrante, não é verdade?
O mercado de consumo é assim e não mudará. A boa notícia é que o poder de interromper este ciclo foi, é e sempre será somente nosso, consumidores. Não somos obrigados a comprar algo que um ator diz que usa ou aquilo que nosso cantor favorito recomendou, por exemplo. Se isto serve para eles, talvez não faça o mínimo sentido em nossa vida. Pensar sobre o porquê realmente desejo aquele produto, naquele momento, parece ser a melhor estratégia para controlar este impulso de comprar, que por vezes, é quase instintivo. Essa reflexão nos ajuda a considerar que papel aquele produto estará cumprindo em nossa vida: se como algo realmente necessário ou como uma mera busca de satisfação imediata. Assim, longe de radicalismos, até podemos comprar, vez ou outra, pelo simples prazer da compra, desde que estejamos conscientes de ser este o nosso objetivo.
Rompendo com este lógica de modelos prontos e artificiais de bem viver, é esperado que nossas expectativas tornem-se muito mais coerentes com nosso verdadeiro e particular significado de felicidade. Sem toda pressão imposta pelo mercado, é provável que encontremos alternativas bem mais simples e baratas para obtenção de satisfação, seja no encontro com amigos, num passeio no parque ou mesmo nos reencantando com coisas que já temos e que estavam esquecidas em nosso armário. Possibilidades não faltam, basta encontrar as suas. É importante lembrar que, como em qualquer mudança, cada pessoa assimila as novidades de forma distinta, sendo considerado normal até mesmo algum nível de sofrimento neste processo. Porém quando este for sentido de forma muito exagerada, é mais que natural que se faça necessário o auxílio externo de um profissional. 



Alexandre Zortea – Estudante de Psicologia da PUCRS, Estagiário de Psicopatologia do CEAPIA