Todos
nós vivenciamos, em certo grau, a turbulência emocional que é a adolescência:
momento de inúmeras mudanças físicas, afetivas; etapa de transformações
galopantes, de perdas e ganhos... O vestibular entra na cena adolescente
trazendo consigo ansiedades e expectativas ligadas à identidade do jovem: “afinal
que caminho trilhar profissionalmente?” é a pergunta, mas ligada a esta surge
um questionamento ainda maior: “quem eu, realmente, sou?”. Sem dúvida, sabemos
que tende a ser difícil realizar, em plena adolescência, uma escolha segura e
clara acerca da vida profissional. Como dizia inicialmente, a adolescência em
si mesma exige muito trabalho mental do jovem; ocupa importante tempo/espaço interno
deste e é natural sentir-se confuso, por vezes, perdido frente a uma demanda de
definições sobre seu futuro.
Muitas
e muitas vezes, se sobrepõe a vivência do adolescente e de suas angústias
frente ao desconhecido às idealizações dos pais em relação ao futuro deste e de
suas escolhas. E é esse ponto que gostaria de hoje pensar com vocês... Refletir
sobre a importância de haver uma necessária discriminação entre o desejo dos pais
e filho(a), ou seja, de existir uma capacidade desses pais em perceberem
verdadeiramente o(a) filho(a) e o que ele(a) almeja, independente de suas
preferências! Nem sempre essa é uma tarefa simples e pode sim gerar atritos e
desgastes na família.
O
ponto que destaco nessa fase do vestibular, tomando essa como uma espécie de
“rito de passagem para o mundo adulto”, é o modo como os próprios pais do
adolescente lidam com tal experiência e o impacto que essa tem no sentido de
“ser” do adolescente! Se estes pais podem suportar as indefinições e confusões de
seus filho(a)s, o que é esperado nessa etapa, se acolhem e aceitam dúvidas sem
invadir, sem serem aqueles que “tudo sabem”, creio que é possível se criar uma
atmosfera muito mais tranquila nessa relação, auxiliando o jovem a encontrar a
si mesmo e, assim, a trilhar o seu caminho... Claro, podendo também buscar
alguns referencias naqueles que os cercam como pais, professores, entre outros,
pois isso faz parte na formação da identidade do adolescente. Para tanto, poder
dialogar com o filho(a), aceitar o seu ritmo e compreender que esse é o seu
momento, sem depositar nele e em suas escolhas futuras (também profissionais) a
realização de sonhos próprios, me parece ser um auxílio fundamental ao jovem no
enfrentamento, passa a passo, dos desafios emergidos na adolescência.
Luciana Grillo, Psicóloga e Preceptora do CEAPIA